sábado, 18 de outubro de 2008

Berlindes Magnéticos

Não. Isto não é só uma viagem em que vou de costas no comboio, a ouvir trinta mil conversas que não me interessam, com a perna da respeitável senhora que se apresenta ao meu lado a roçar na minha, a um ritmo irritantemente certinho. Certinho porque é da perna esquerda de uma respeitável senhora que trato. Evidentemente, se fosse a perna direita, significaria que não ia à janela e que a paisagem que me passaria à frente dos olhos seria a lista tão murchadora de pilinhas que se vê por baixo da inscrição "Para o seu conforto nesta carruagem". Se o facto fosse este, provavelmente teria dito "certo comó caralho", ou "estupidamente bem ritmado". Mas não. O termo é "certinho". Não sendo só uma viagem de comboio, não me posso desligar dos berlindes magnéticos que saltam de um lado para o outro, como se fizessem parte de um qualquer grupo ou rancho folclórico dançantes da mazurka. Dançam paralelamente à linha que se assemelha a um palito depois de ter tirado meio quilo de carne de perú do dente molar de um homem portador de um bigode farfalhudo. E falam. Uma língua magnética que nem se ouve. Mas entende-se. É perceptível como a interferência de um telemóvel em qualquer televisão. Linguagem universal. Cheiram execravelmente a positivo e a negativo. E a dança continua. Um cumprimento à respeitável senhora, um beijinho no bigode do senhor, um fellatio ao palito propriamente dito. Que se foda a República.

2 comentários:

João Barreiro disse...

fazes-me lembrar um escritor qq q nao m lembro o nome
tudo mt bom, so para dizer q se foda a republica mesmo!
no entanto, também podes estar à janela e a perna que está encostada à tua ser a perna direita da senhora :P

João Barreiro

Anônimo disse...

Pois acho que escreves bem mas utilizas vocabulário vernáculo em excesso! Mas tu lá sabes! Se andasses mais vezes de comboio sabias que há janelas dos dois lados!